Jose A. Neves Aquino

29 de jul de 20216 min

HERMENÊUTICA BÍBLICA EM CRISE

'A Morte do Autor', um desafio a ser superado

Introdução

Para alguns teólogos o problema que afetou a interpretação bíblica tem como marco o giro hermenêutico, com a filosofia idealista alemã que teve como expoente Martin Heidegger,(1) em "Ser Tempo", a partir da fenomenologia do seu mestre Husserl, (2) a metafísica primeira, ontoteologia e ontologia orientam o que Heidegger denominou de "Hermenêutica da Faticidade".

Parte I do Artigo

O que muitos pensadores às vezes não compreedem é que, os presuposto de hedeggeriano, cujo conceitos dos "prés", pré-compreensão, pré-conceito e pré-juizo são os fundamentos de uma hermenêutica da suspeição, como posteriormente defendeu Derrida(4) em sua teoria "descontrucionista". (5)

Nessa esteira, Gadamer,(3) (Verdade e Método) pode-se se dizer, foi o pensador ganhou notoriedade e destaque ao debruçar-se em Heidegger em sua crítica ao metodologismo da tradição, a qual, buscava a validade da interpretação na means auctoris, intenção do autor, e na objetividade no processo intertextual , autor e leitor.

Teorias e presupostos

Entretanto, a crise que afetou a intepretação, ou hermenêutica bíblica, é muito anterior, fato é, com a hermenêutica que se fundamenta na subjetividade, revestida dos postulados da teoria literária, sobretudo, da teoria de Roland Barthes,(6) o texto é agora revestido de primazia e sob o dominímio do leitor. Ou seja, o texto poderá possuir multiplicidades de sentidos, pois, o autor não mais tem domínio sobre o que intencionou comunicar aos seus ouvintes, leitores.

Se confirirmos diferentes sentidos ao texto, isso levá-nos a incerteza da verdade do texto, isto é, o que realmente o autor tinha em mente? Interpretamos movidos pelos "prés", ou por nossas convinoêcias? Pode-se questionar: temos um problema ontológico, ou ôntico no modo como somos direcionados ao objeto de nossa observação?

O problema da interpretação na era apostólica

Ao lermos o NT percebemos claramente que o objetivo dos que se infiltravam na comunidade para tirarem proveito da fé do cristãos, distorciam as doutrinas dos apóstolos e as Escrituras, Tanakh, ficando evidente que, não o faziam por uma questão fenomelógica, psicodélica ou porque tinha os "prés" como resultado de suas experiência quanto ser na faticidade, não, de modo algum. Eles conhciam o texto, sabiam o que realmente os apóstolos intencionavam e como a tradição interpretava as Escrituras, mas por ambição e preconceito, não pré-conceito, adulteram os textos, fato que, 2 séculos depois Eu´sebio registrou sobre a prática de adulterarem os textos.

Destarte, mais uma vez, surge outra questão: se os apóstolos e pais da igreja, ou o próprio historiador Eusébio acusavam alguns de adulterarem, logo, fica evidente que a tradição preservar o conhecimento do texto, e, do real significado que o texto possuia, não podendo ser interpretado para atender os interesses das escolas teológicas e filosóficas.

Dos conceitos da teoria literária

A questão hermenêutica argüida pela teoria literária interpela sobre: qual é a interpretação válida aplicada à leitura das Escrituras, as normas jurídicas e literaturas? A interpretação que se fundamenta na intenção do autor, do texto, ou do leitor? É partir das análises bibliográficas dos autores que se debruçaram sobre o tema, que esta pesquisa procurar-se-á possíveis respostas ao problema que questiona: qual é a interpretação válida?

1 A DISTÂNCIA CULTURAL E LINGUISTICA DOS TEXTOS BÍBLICOS

A Bíblia não é livro de origem ocidental, ela foi escrita em dois idiomas, hebraico e grego, passou por um processo constante e dinâmico de traduções. Como um conjunto de livros a Bíblia é dividIDa em duas seções, AT e NT, para os judeus, Tanakh e Brit Hadashá. Duas religiões totalmente fundamentam suas crenças no mesmo livro, contudo, elas estão diametralmente separadas por barreiras teológicas que decorrem da interpretação dos textos Sagrados: fé, costumes, doutrinas, liturgia.

A crise espiritual, teológica e moral no cristianismo são decorrentes de uma crise hermenêutica que se iniciou no I século, e se gravou com a hermenêutica filosófica e teorias lingüísticas dos pós-modernos, pois, para eles não é possível impossível o acesso ao sentido original do texto bíblico.

A partir de I século um movimento judaico foi criado sob a orientação de um camponês chamado Yeshua, nome que foi interpolado para Jesus. Em seus sermões Jesus citava As Escrituras, isto é, o AT, e ordenava aos seus discípulos que examinassem As Escrituras.

A comunidade primitiva conhecida como Nazarenos foi exortada a pratica investigativa minuciosa dos textos, Yeshua não ordenara uma mera leitura, mas um processo acuidoso de analisar de forma criteriosa tudo que estava escrito no AT.

  1. 1. A interpretação bíblica na primeira comunidade cristã

Os Nazarenos faziam isso? Sim. Os discípulos debruçavam-se na interpretação dos textos, porque haviam entendido as ordem de Yeshua, conforme registrou o escriba da comunidade joanina.


 
ἐραυνᾶτε τὰς γραφάς, ὅτι ὑμεῖς δοκεῖτε ἐν αὐταῖς ζωὴν αἰώνιον ἔχειν· καὶ ἐκεῖναί εἰσιν αἱ μαρτυροῦσαι περὶ ἐμοῦ· (Jn. 5:39 BGT)

Apesar do hebraico e do grego serem línguas polissêmicas, os discípulos entenderam de maneira clara o termo empregado por Jesus, o verbo ἐραυνᾶτε. Este vervo está segunda pessoa do plural cognato de ἐραυνάω, assumindo assim a forma do imperativo, cuja tradução pode ser: investigar cuidadosamente, pesquisar aplicando critérios.

Destarte, Yeshua sabia que as escolas judaicas estavam dividas justamente por interpretarem os textos conforme suas próprias conveniências, e mais, algumas escolas eram influenciadas por crenças helenistas e egípcias, e que, certamente, isso levaria a pequena comunidade que ali se iniciava a desviar-se da verdade seguindo fabulas e tradições.

Os primeiros cristãos eram instruídos com base nas doutrinas dos apóstolos, e , o que passou a ser chamado de NT só aparece muitas décadas depois da morte de Yeshua. Vivendo de acordo com o AT que era interpretado pelos apóstolos, os Nazarenos sofreram perseguição, ameaça de morte, até o dia em que, Inácio, bispo de Antioquia da Síria entre 68 e 100 ou 107, discípulo do apóstolo João, começar atacar os ensinamentos dos apóstolos que eram baseados no AT, na correta interpretação Das Escrituras Sagradas.

O apostolo Paulo já lidava com isso, judeus helenistas e greco-romanos se infiltravam nas comunidades distorcendo tudo que os apóstolos ensinavam. Não demorou muito para que Inácio se denominasse Bispo, autoridade, e aliando-se a outros admiradores começaram perseguir os Nazarenos, acontecendo assim o surgimento de um movimento independente, sob a liderança de um herege, constituindo-se como "ramo" da Igreja Primitiva, ja podendo ser denominado de Cristianismo.

  1. 2. O cerne do debate hermenêutico

Partindo da breve da historia dos movimentos, e dos motivos que ocasionaram a divisão, o presente artigo apresenta de maneira clara, coerente, a analise critica da hermenêutica bíblica que estar sob o domínio da filosofia do idealismo alemão, a partir de Heidegger e Gadamer, e de sua oposição a hermenêutica tradicional em Schleiermacher e Dilthey, a negação da objetividade e intenção autoral, forte crítica ao método, esvaziamento do sentindo que sai do domínio do autor para o texto e obra, culminando na morte do autor, cuja teoria literária tem como defensor Roland Barthes.

O artigo é resultado do trabalho de pesquisa desenvolvido pelo autor em decorrência do mestrado em filosofia, sob a linha de pesquisa, em Análise do discurso literário, com base nas teorias de Hirsch(7) e Wittegenstein(8) Se você e estudante da Bíblia, professor de escola dominical, seminarista ou teólogo, vale a pena ler adquirir o livro publicado pelo autor.


 
Palavras-chaves: Hermenêutica. Teologia. Bíblia. Teoria Literária

  1. Edmund Gustav Albrecht Husserl foi um matemático e filósofo alemão que estabeleceu a escola da fenomenologia.

  2. Martin Heidegger foi um filósofo alemão. É um dos pensadores fundamentais do século XX

  3. Hans-Georg Gadamer ( Marburgo, 11 de fevereiro de 1900 — Heidelberga, 13 de março de 2002) foi um filósofo alemão considerado como um dos maiores expoentes da hermenêutica (interpretação de textos escritos, formas verbais e não verbais). Sua obra de maior impacto foi Verdade e Método ( Wahrheit und Methode ), de 1960.

  4. Jacques Derrida (El Biar, Argélia, 15 de julho de 1930 — Paris, 9 de outubro de 2004) foi um filósofo franco-magrebino, que iniciou durante a década de 1960 a Desconstrução em filosofia.

  5. Esta "desconstrução", termo que cunhou, deverá aqui ser compreendido, tecnicamente, por um lado, à luz do que é conhecido como "intuicionismo" e "construcionismo" no campo da metamatemática, na esteira da obra de Brouwer e depois Heyting, ao qual Derrida irá adicionar as devidas consequências dos teoremas da indecidibilidade de Kurt Gödel e, por outro, a um aprofundamento critico da obra de Husserl, Heidegger e Levinas na ultrapassagem da metafísica tradicional que ele vai apresentar como sendo uma "metafisica da presença". Em https://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Derrida

  6. Roland Barthes (Cherbourg, 12 de novembro de 1915 — Paris, 26 de Março de 1980) foi um escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês. Formado em Letras Clássicas em 1939 e Gramática e Filosofia em 1943 na Universidade de Paris, fez parte da escola estruturalista, influenciado pelo lingüista Ferdinand de Saussure. Crítico dos conceitos teóricos complexos que circularam dentro dos centros educativos franceses nos anos 50. Entre 1952 e 1959 trabalhou no Centre national de la recherche scientifique - CNRS. Mais informações em https://pt.wikipedia.org/wiki/Roland_Barthes

  7. E. D. Hirsch (1928- ) estudioso de literatura da Universidade de Vírginia, EUA, produziu um trabalho chamado Validity Interpretation (Validade em Interpretação).

  8. Ludwig Joseph Johann Wittgenstein foi um filósofo austríaco, naturalizado britânico. Foi um dos principais autores da virada linguística na filosofia do século XX. Suas principais contribuições foram feitas nos campos da lógica, filosofia da linguagem, filosofia da matemática, e filosofia da mente.

Jose A Neves, bacharel em teologia, pós graduado em teologia e direitos humanos, estudante de direito, pós graduado em ciencias políticas, mestrando em filosofia, escritor, ensaísta, é conservador, crítico textual e especialista em exegese do AT e NT, formado no curso avançado de hebraico e grego , pelo Insituto Professor Moshé Gitlin-RJ, 2007, por relevantes projetos em prol da educação e causa acadêmica, recebeu do Conselho de Pastores Teólogos e Oficias Evangélicos do Brasil e Exterior-CPEBE, com o Título de Doutor Honoris Causa em Filosofia Política e Teoria do Estado.


 

 


 


 


 

 


 


 


 

 


 

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